Clima reduzirá pela metade a área de produção do grão de café no mundo




O cafezinho do dia a dia está seriamente ameaçado pelas mudanças climáticas, aponta relatório divulgado recentemente pelo Climate Institute, baseado na Austrália. Por causa do aumento das temperaturas e dos eventos climáticos extremos, a área adequada para a produção do apreciado grão deve ser reduzida em 50% até 2050 nos cerca de 70 países produtores, incluindo o Brasil, provocando a queda na qualidade e disparada nos preços. Até 2080, a previsão é que o café selvagem, importante fonte genética para os produtores, esteja extinto.

— Mais de 2,25 bilhões de copos de café são consumidos diariamente ao redor do mundo — diz John Connor, diretor executivo do Climate Institute.

De acordo com o relatório, existem evidências de que as mudanças climáticas, com temperaturas mais altas e alterações nos padrões de chuva, já estão afetando a qualidade, as pragas, as doenças e o rendimento dos campos produtores, o que coloca em risco o modo de vida de 125 milhões de pessoas que dependem diretamente do plantio do café.

O café do tipo arábica domina a produção global, respondendo por cerca de 70% do total. O problema é que a espécie é bastante sensível às mudanças de temperatura. A melhor performance acontece entre 18 e 21 graus Celsius. Acima de 23 graus Celsius, a planta cresce de forma acelerada e frutifica antes do esperado, o que danifica a qualidade do grão. E uma das características das mudanças climáticas que afetam o planeta é justamente o aumento médio das temperaturas.

No Brasil, aponta o relatório, “nas regiões de plantações em Minas Gerais, o número e a intensidade das ondas de calor aumentaram de forma significativa, enquanto frios extremos diminuíram”. Em 2014, uma seca atípica assolou o país, provocando forte impacto na produção.

Apesar de reconhecer a importância das mudanças climáticas pelas quais o planeta passa, Antonio Fernando Guerra, gerente adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento do Embrapa Café, afirma que o Brasil está se preparando para os desafios. E destaca que, mesmo com a seca de 2014, o país conseguiu entregar boas safras em 2015 e 2016. Pela dimensão continental, as perdas numa região são compensadas pelo aumento da produção em outras.



Impacto maior na Produção

Mas a maior preocupação está no impacto sobre a vida dos produtores. Entre 80% e 90% dos cerca de 25 milhões dos cafeicultores, responsáveis pela subsistência de 125 milhões de pessoas, são pequenos produtores, menos capazes de se adaptar às mudanças no clima. Eles estão distribuídos por 70 países que formam o “cinturão do café”, a grande maioria nações pobres ou em desenvolvimento.

No Brasil, 80% dos produtores são de pequenas propriedades, mas praticamente todos estão reunidos em cooperativas, que oferecem apoio e informações para a modernização da produção. Maurício Miarelli, presidente da Cooperativas dos Cafeicultores e Agropecuaristas, vê os fenômenos climáticos como cíclicos, e diz ser possível aprender com o passado para prevenir danos futuros.

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